terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Deínha: uma professora galante em minha vida

            No ano de 1950 meu pai construiu no quintal de nossa casa, com frente para a  Floresta, um prédio escolar com sala única, para servir gratuitamente às crianças daquele bairro. Sua filha Déa havia se formado e ele a colocou como professora. Para “prestigiar” o acontecimento, matriculou-me na escola. Era o meu último ano do curso primário. Logo no início, todas as vagas foram preenchidas. Eu e Terezinha de Seu Candocha éramos os primeiros alunos. Tirávamos as melhores notas. No final do ano, concluído o meu curso primário, meu pai levou-me a Salvador para que eu fizesse o exame de admissão ao ginásio, no Colégio Dois de Julho. Nos primeiros dias do mês de janeiro prestei o exame e fui reprovado. Deínha pirou: “menino você quer me matar de vergonha?” Ela não morreu, mas eu quase morri. Foi o meu primeiro e grande fracasso na vida!
            Mas, no final de fevereiro, aconteceria uma segunda época. Meu pai me disse: “Não se justifica você voltar a Mundo Novo. Você vai ficar aqui aguardando o novo exame. O Velho não disse, mas, com certeza, foi um castigo que ele me aplicou. Ficamos no imenso Colégio, eu e mais quatro colegas de infortúnio. À noite, num dormitório com cerca de cem camas, eu chorava desesperadamente, mas, durante o dia, eu estudava com um louco. Eu tinha que desagravar a reputação de minha irmã e professora.
            Finalmente, em fevereiro, vieram os exames. No dia da divulgação dos resultados, fomos levados para o auditório. Sentei-me na última cadeira. Tremia como uma “vara verde”. Obedecendo à ordem alfabética, a professora anunciou em tom solene: “Dante de Lima, aprovado com louvor”.
            Quando retornei a Mundo Novo, saltei do ônibus e subi a ladeira da Floresta num só fôlego. Adentrei resfolegante na escolinha vazia. Sentei-me na mesma cadeira, e murmurei aliviado: “Graças a Deus, minha professora não vai mais ter vergonha de mim”.
             



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