Deínha: uma
professora galante em minha vida
No
ano de 1950 meu pai construiu no quintal de nossa casa, com frente para a Floresta, um prédio escolar com sala única,
para servir gratuitamente às crianças daquele bairro. Sua filha Déa havia se
formado e ele a colocou como professora. Para “prestigiar” o acontecimento,
matriculou-me na escola. Era o meu último ano do curso primário. Logo no
início, todas as vagas foram preenchidas. Eu e Terezinha de Seu Candocha éramos
os primeiros alunos. Tirávamos as melhores notas. No final do ano, concluído o
meu curso primário, meu pai levou-me a Salvador para que eu fizesse o exame de
admissão ao ginásio, no Colégio Dois de Julho. Nos primeiros dias do mês de
janeiro prestei o exame e fui reprovado. Deínha pirou: “menino você quer me
matar de vergonha?” Ela não morreu, mas eu quase morri. Foi o meu primeiro e
grande fracasso na vida!
Mas,
no final de fevereiro, aconteceria uma segunda época. Meu pai me disse: “Não se
justifica você voltar a Mundo Novo. Você vai ficar aqui aguardando o novo
exame. O Velho não disse, mas, com certeza, foi um castigo que ele me aplicou.
Ficamos no imenso Colégio, eu e mais quatro colegas de infortúnio. À noite, num
dormitório com cerca de cem camas, eu chorava desesperadamente, mas, durante o
dia, eu estudava com um louco. Eu tinha que desagravar a reputação de minha
irmã e professora.
Finalmente,
em fevereiro, vieram os exames. No dia da divulgação dos resultados, fomos
levados para o auditório. Sentei-me na última cadeira. Tremia como uma “vara
verde”. Obedecendo à ordem alfabética, a professora anunciou em tom solene:
“Dante de Lima, aprovado com louvor”.
Quando
retornei a Mundo Novo, saltei do ônibus e subi a ladeira da Floresta num só
fôlego. Adentrei resfolegante na escolinha vazia. Sentei-me na mesma cadeira, e
murmurei aliviado: “Graças a Deus, minha professora não vai mais ter vergonha
de mim”.
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